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terça-feira, maio 10, 2005

Trapo 15 - Processo de Bolonha - Esparguete à Bolonhesa ou evolução do ensino superior europeu?

Olá, Pessoal! A equipa Pica-Pau achou que seria interessante partilhar com as restantes equipas as reflexões que temos vindo a ter. Dessa vontade, surgiu este textinho que esperamos seja esclarecedor e agradável.

Dúvidas e desafios na Aprendizagem Superior

O Processo de Bolonha surgiu-nos como um prato cheio de “Massa Esparguete” – um emaranhado de fios difícil de destrinçar. A Pica Pau quis agarrar um desses fios por forma a tentar compreender todos os seus contornos, assim como tentar perceber onde este nos poderá levar. Porque consideramos que o Processo de Bolonha assenta num princípio fundamental para a melhoria da qualidade do Ensino Superior, nomeadamente nas capacidades e competências horizontais: aprender a pensar, aprender a aprender, aprender a ensinar, é sobre a dimensão da metodologia da aprendizagem que nos propomos fazer uma análise mais profunda.
Também noutras, mas principalmente nesta dimensão, o Processo de Bolonha apela a uma mudança de atitudes nas nossas salas de aulas por parte de todos, mas principalmente por parte dos estudantes e dos professores. Embora todos tenhamos experiências de um envolvimento mais activo no processo de aprendizagem, o facto é que estas experiências são sempre momentos singulares e, como tal, não espelham a realidade do Ensino Superior. De facto, com a crescente evolução científica, os nossos programas curriculares têm ficado cada vez mais sobrecarregados, embora a carga horária semanal seja a mesma. Esta situação leva a que os nossos professores, ao quererem transmitir todos os seus conhecimentos, o façam de uma forma completamente expositiva, em que não existe nenhuma interacção professor-aluno, o que condiciona que mesmo as noções mais básicas e de importância crucial fiquem diluídas no mar de informação “despejada” e como tal não apreendida. Neste seguimento, coloca-se a questão de como encontrar o equilíbrio entre a necessidade de acompanhar a evolução científica e simultaneamente promover uma participação mais activa dos estudantes na vida da escola, não sobrecarregando excessivamente as horas de contacto que os alunos dispõem com o professor.
Entendemos que o professor deverá ser um mediador da aprendizagem e que cada aluno deve fazer o seu próprio percurso, isto é, os alunos devem chegar por si a um conhecimento adequado, fazendo as suas próprias experiências, uma vez que “…apenas a experiência é registada de maneira privilegiada nos solos da memória, e somente ela cria avenidas na memória capazes de transformar a personalidade” 1. Neste sentido entendemos que a escola deverá ser um local de formação de competências académicas, pessoais e profissionais – competências que apelem à consciência critica, à capacidade de debater, de questionar e de trabalhar em equipa. O modelo de educação escolar que actualmente dispomos não apela à criatividade mas à simples repetição de informação, e a prova maior desta situação são os exames escolares que têm como objectivo verificar a apreensão de conhecimentos e que unicamente estimulam os alunos a repetir informações, não encorajando o desenvolvimento do raciocínio e a sua capacidade de argumentação, facto que não cria nos estudantes, em particular, e nos cidadãos, em geral, o gosto pelo saber e pelo conhecimento.
Uma outra questão está relacionada com a forma como os alunos encaram o Ensino Superior; a nosso ver este é talvez um dos maiores problemas de base do nosso insucesso (que não se mede apenas pela percentagem de alunos que não conseguem finalizar o Ensino Superior com sucesso, mas também pela percentagem de profissionais menos capazes de realizar de forma verdadeiramente eficiente a sua actividade). Continuamos a olhar para o nosso umbigo, continuamos a encarar o Ensino Superior como uma forma de receber um diploma, como um espaço onde podemos ir buscar algo para nosso proveito, e não como um espaço onde podemos deixar algo para proveito de outros. A escola, pela sua importância social, económica e cultural, tem como dever formar uma população mais esclarecida, alertando para a consciência crítica de todos os seus “filhos”, reforçando a cidadania e a democracia, valorizando princípios tais como a multiculturalidade, a diversidade, a liberdade e a paz. Assim, a escola, local de
educação formal deve cada vez mais valorizar a educação não formal. Neste sentido seria muito proveitoso para todos que as Escolas pensassem em formas de intervir mais activamente e a curto prazo na sociedade, o que se poderia traduzir pelo desenvolvimento de projectos no sentido das Escolas canalizarem os seus conhecimentos e capacidades ao serviço da sociedade, envolvendo desta forma todo o corpo académico.

Pica Pau
(Equipa do SES do Porto)

1 – Cury A. - Pais brilhantes, professores fascinantes. Pergaminho.2005




(Texto de reflexão da Pica-Pau, a minha equipa base do MCE)

1 Bocadinho(s):

Blogger Unknown said...

Numa altura em que se prepara uma manifestação em Coimbra contra o processo Bolonha, nada melhor que um texto destes para podermos perceber um pouco o que é 'isto' do processo de Bolonha.. Porque, e é a minha opinião, muitos dos alunos que vão protestar nem sequer sabem em que moldes vai ser aplicado este processo. Eu revelo que ainda tenho algumas dificuldades, mas que já tenho uma pequena ideia. Esperemos não ver figuras tristes na televisão, de alunos a revelarem ignorância num assunto em que supostamente teriam opinião, ao participarem numa manifestação..

13 de maio de 2005 às 20:49  

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