Trapo 103 - Estrada fora
E íamos... estrada fora, apesar da chuva. E eu estava feliz...
Conversávamos sobre o quotidiano, apesar da chuva e continuávamos estrada fora.
De repente, a água fez com que o volante se virasse, senti o carro a embater nos railes da esquerda, o parachoques saltou, rodopiamos, voltamos a embater no raile da direita e ainda estávamos a andar quando pensei que já podia pôr o pé no travão. O carro parou.
"Tu estás bem?!" "Estou!"
Abraçamo-nos!
Um senhor espreita pelo vidro da frente e eu aceno-lhe em sinal de que não estamos feridos.
Saímos do carro, ele diz que eu saí do lado dele, eu acho que saí do meu!
"Saia daqui! Saia, que o sr. está sem colete e vai apanhar uma multa! Saia! Nós estamos bem! Nós ligamos pro 112!" digo a tremer.
Pego no telemóvel...
"MÃE! MÃE! O PAI?"
"Não está, porquê?"
"Oh mãe, eu estou bem, mas eu tive um acidente! Mas eu estou bem! O Vitor ia comigo e também não tem nada! Mas eu desfiz o carro todo!"
"Onde estás?"
"Não sei bem... é naquela auto-estrada depois de Sto Tirso, antes da portagem do Porto."
"OK. Tem calma! Eu e o pai vamos já prai!"
Ele tratou de tudo... coletes, triangulo e até de me levar para lá dos railes. E os destroços saltavam...
Chegou o carro da Brisa.
Agora já estava a chover a sério.
Ligou-se para o reboque e esperamos.
Cerca de 20 minutos depois chegou o carro da BT. O agente era bastante simpático, deixou-nos abrigar da chuva. Recolheu os dados e ainda fez piada por eu saber o número do BI de cor.
Fomos para a estação de serviço.
A minha mãe estava muito pálida. A face do meu pai só começou a ganhar alguma cor depois de me ver...
Em casa, chorei... Chorei muito no colinho da mamã. "Pronto, filha... Os acidentes acontecem... E da maneira que foi tens que dar graças a Deus por estarem os dois vivos e bem. Carro é chapa...!"
Na quarta-feira tocou o telefone durante a aula. Saí para atender. Era o meu primo Hugo. Não consegui evitar que caísse uma lágrima...
Na quinta-feira à noite ligou a D. Elisa. Uma pessoa que me é muito especial. Não consegui evitar que as lágrimas caíssem pela cara abaixo depois de atender. Aliás... Mal consegui falar.
Passou uma semana.
Já consigo escrever sobre o acidente e já só tremo um bocadinho!
Já consigo não chorar o tempo todo!