do fim --> Bocadinhos de Trapos: fevereiro 2007

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Trapo 103 - Estrada fora

E íamos... estrada fora, apesar da chuva. E eu estava feliz...
Conversávamos sobre o quotidiano, apesar da chuva e continuávamos estrada fora.
De repente, a água fez com que o volante se virasse, senti o carro a embater nos railes da esquerda, o parachoques saltou, rodopiamos, voltamos a embater no raile da direita e ainda estávamos a andar quando pensei que já podia pôr o pé no travão. O carro parou.
"Tu estás bem?!" "Estou!"
Abraçamo-nos!
Um senhor espreita pelo vidro da frente e eu aceno-lhe em sinal de que não estamos feridos.
Saímos do carro, ele diz que eu saí do lado dele, eu acho que saí do meu!
"Saia daqui! Saia, que o sr. está sem colete e vai apanhar uma multa! Saia! Nós estamos bem! Nós ligamos pro 112!" digo a tremer.
Pego no telemóvel...
"MÃE! MÃE! O PAI?"
"Não está, porquê?"
"Oh mãe, eu estou bem, mas eu tive um acidente! Mas eu estou bem! O Vitor ia comigo e também não tem nada! Mas eu desfiz o carro todo!"
"Onde estás?"
"Não sei bem... é naquela auto-estrada depois de Sto Tirso, antes da portagem do Porto."
"OK. Tem calma! Eu e o pai vamos já prai!"
Ele tratou de tudo... coletes, triangulo e até de me levar para lá dos railes. E os destroços saltavam...
Chegou o carro da Brisa.
Agora já estava a chover a sério.
Ligou-se para o reboque e esperamos.
Cerca de 20 minutos depois chegou o carro da BT. O agente era bastante simpático, deixou-nos abrigar da chuva. Recolheu os dados e ainda fez piada por eu saber o número do BI de cor.
Fomos para a estação de serviço.
A minha mãe estava muito pálida. A face do meu pai só começou a ganhar alguma cor depois de me ver...

Em casa, chorei... Chorei muito no colinho da mamã. "Pronto, filha... Os acidentes acontecem... E da maneira que foi tens que dar graças a Deus por estarem os dois vivos e bem. Carro é chapa...!"

Na quarta-feira tocou o telefone durante a aula. Saí para atender. Era o meu primo Hugo. Não consegui evitar que caísse uma lágrima...

Na quinta-feira à noite ligou a D. Elisa. Uma pessoa que me é muito especial. Não consegui evitar que as lágrimas caíssem pela cara abaixo depois de atender. Aliás... Mal consegui falar.

Passou uma semana.
Já consigo escrever sobre o acidente e já só tremo um bocadinho!
Já consigo não chorar o tempo todo!

terça-feira, fevereiro 20, 2007

Trapo 102 - Inerte!

Sinto-me inerte!
O meu corpo não reage,
não sinto impulsos fisiológicos.
Os meus pensamentos vagueiam
Tenho sensações.
Os meus olhos doem,
estão pesados,
escorrem uma água salgada...
Não tenho fome
e espero alguém...
Espero alguém desprendida,
porque os meus pensamentos vagueiam.
A garganta tem um nó,
a cabeça está pesada.
Estou imóvel por dentro,
não sinto estímulos.
Ah!
Se calhar estou triste...
Estou muito triste,
Sinto-me inerte!

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Trapo 101 - Apenas mais um dia

Insónias permanentes atormentavam a sua mente, como quem nos pica com mil agulhas, uma a uma, suavemente…

Inerente aos tormentos levantou-se, já era habito querer dormir e não puder, e dirigiu-se à janela para fumar. A noite estava estrelada, com um céu límpido, onde se podiam ver as estrelas bem ao longe, e vontade de as agarrar não lhe faltava.

Enquanto fumava pensou no tempo perdido, teria sido em vão que tinha vindo viver para Lisboa após a desintoxicação? Por quanto tempo mais iria viver em guerra consigo mesma?

Acabou de fumar e deitou-se, mal caiu na cama os pensamentos que lhe atormentavam a alma desvaneceram-se à medida que o sono lhe fechava as pálpebras lentamente e acabou por adormecer na paz do anjos…

A manhã levantou-se esbelta e quando ela acordou já os pássaros tinham parado de cantar e o sol ia bem alto, vestiu-se e enquanto se preparava para sair o telefone tocou…

Ricardo Jorge Marques

(Espero que este post traga vontade de o continuar a escrever.)